O Cel. Hildebrando Cezar de Souza Araújo (Imbituva/PR 01/06/1885) cumpriu uma longa trajetória desde a infância em Imbituva até os sofisticados círculos sociais, empresariais e políticos de São Paulo e Paraná. Filho do professor Júlio César de Souza Araújo e Manoela Alves de Souza Araújo, Hildebrando e seus irmãos Heráclides e Hostílio perderam o pai ainda crianças, o que não os impediu de cumprirem vidas plenas e produtivas. O médico Heraclides percorreu o mundo em trabalhos e pesquisas sobre a hanseníase, tornando-se reconhecido e famoso na especialidade. Hostílio, advogado, desenvolveu brilhante carreira em São Paulo e ocupou funções públicas importantes no governo do Estado do Paraná, entre elas Diretor do Ensino, antiga denominação para Secretário Estadual da Educação, e prefeito de Curitiba.
O sucesso profissional dos irmãos tem um pouco da mão do próprio Hildebrando. Altruísta, desprendido e preocupado com o desenvolvimento humano, assim que sua renda permitiu, passou a ajudar os irmãos financeiramente para que pudessem se dedicar aos estudos.
Nas primeiras décadas do século passado, o cidadão verdadeiramente proeminente era um generalista. Homem de seu tempo, Hildebrando de Araújo desenvolveu amplo leque de interesses, atividades e responsabilidades. Foi, grosso modo nesta ordem, funcionário, comerciante no varejo e no atacado, industrial, dono de jornal, político e, durante toda a vida, amante das letras e das artes e apaixonado polemista. Cada uma destas facetas reflete sua liderança natural e sua extraordinária capacidade de combinar o intelecto privilegiado e bem cultivado à facilidade no trato e no relacionamento pessoal.
A perda do pai, aos 10 anos, e o início humilde como ajudante num armazém de secos e molhados (em 25/01/1899, aos 13 anos de idade) foram exemplos de barreiras que, ao serem rompidas, impulsionaram Hildebrando por toda a vida. Das vassouras e fardos de mercadorias, passou logo ao atendimento aos fregueses. Cordial, afável, alegre e dono de excelente memória, começou valiosas relações a partir do balcão da loja de Nicolau Farhat, imigrante sírio respeitado na comunidade de Ipiranga, interior do Paraná.
As relações evoluíam na medida em que Hildebrando progredia. O patrão, bom negociante, soube perceber os dotes de seu funcionário, oferecendo-lhe desafios cada vez mais elevados e recompensando seus resultados. Graças às contribuições ao negócio, Hildebrando passou a “interessado”, termos da época para o sócio nos dividendos. Anos depois, quando Farhat decidiu se retirar dos negócios, Hildebrando comprou a parte do ex-patrão e mentor.
Aos 17/18 anos de idade criou e organizou um jornal manuscrito, “O Serrote”. Três anos depois era colocado em circulação um bem impresso e noticioso jornal “Ypiranga”. Era o desabrochar de uma vocação, que oi levaria, mais tarde, a comprar e dirigir, por muitos anos, o “Diário da Tarde”.
Transferindo a residência de Ipiranga para Curitiba, em 1918, a expansão dos negócios foi um passo natural, ainda que não menos difícil. O empresário interiorano passou a fazer compras nos grandes centros como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Casado, em 20/01/1917, na cidade de Ponta Grossa, com a Sra. Leopoldina Conceição Vicente de Castro (Ponta Grossa 20/08/1899 – Curitiba 21/04/1990), decidiu se instalar em Curitiba, manteve sua loja naquela comarca e intensificou a indústria, beneficiamento e o comércio de erva mate estendendo seus interesses comerciais para a Argentina, onde formou boa clientela. Ao mesmo tempo explorava o comércio de tecidos e armarinhos por atacado e a varejo, mais tarde, em Curitiba, organizou a Casa Hildebrando, de sedas e tecidos finos e outra, especializada em meias.
A orientação e a influência política do sogro ajudaram a pavimentar o caminho de sua determinação. Ingressando na política, exerceu diversos cargos públicos, foi deputado por Ipiranga por sete legislaturas, no período compreendido entre 1926 a 1931 até que a ditadura do Estado Novo interrompeu esta trajetória. Sua liderança representava ameaça aos getulistas e Hildebrando de Araújo foi detido incomunicável no presídio improvisado na Sociedade Garibaldi, tendo seus bens interditados. Saúde, determinação e capacidade de trabalho invejáveis impediram que o episódio o abalasse física, moral ou materialmente.
Em 1932, a oportunidade de socorrer a seu antigo patrão motivou a mudança de sua residência para São Paulo onde, em 1935, organizou a primeira usina de recuperação de estanho, obtendo excelente êxito.
Em 1941 retornou a Curitiba, devotando-se exclusivamente ao “Diário da Tarde”. Sua atividade à frente do Diário da Tarde é exemplar de seu perfil como empresário. Jornalista por vocação, sempre bem informado e com espírito competitivo, comandava tudo, desde a manchete e o tom das edições, até a distribuição, passando pela diagramação e pelo próprio funcionamento da primeira grande rotativa instalada no Paraná.
Hildebrando de Araújo era um homem de origem simples e assim permaneceu por toda a vida. Dono de vastíssima biblioteca numa das casas mais elegantes do sofisticado bairro do Batel, tinha na garagem automóveis importados, especialmente dos Estados Unidos. Sensível e culto, apreciava os espetáculos e a música erudita, colecionava peças de arte, gostava da qualidade e vestia-se bem. Dotado de espírito alegre e comunicativo, transformava em amigos todos os que dele se aproximavam. Mesmo assim, não se deixava levar pela moda, brincava acerca do preço de suas roupas e sapatos e fez questão de que o pomar de seu quintal ficasse junto ao muro para facilitar aos meninos da rua o acesso aos frutos.
As extraordinárias conquistas pessoais e materiais não fizeram Hildebrando de Araújo mais apegado a seu status e a seu patrimônio. Ao contrário, o conhecimento da realidade dos que se iniciam na vida profissional em desvantagem fez dele um dos grandes investidores na capacitação profissional de jovens carentes.
Durante o período de oito anos em que padeceu, jamais soltou uma queixa, submetendo-se resignadamente à partida eterna. Desencarnou em Curitiba, a 15 de setembro de 1948
Com o falecimento do marido em 15/09/1948 e sem filhos para dar continuidade ao seu trabalho, em 14.11.1980 a Sra. Leopoldina Conceição de Castro Araújo lega em testamento a maioria de seus bens, à Fundação Hildebrando de Araújo, que deveria ser criada e administrada pela Federação Espírita do Paraná, com a finalidade de prestação estudos profissionalizantes de nível primário e médio, para meninas e meninos que assim pudessem aprender uma profissão para garantir seu sustento em atividades úteis à comunidade; e também promovendo a construção da primeira escola de ensino profissional para meninos e meninas a ser mantida pela Fundação Hildebrando de Araújo no terreno onde foi a primeira loja Hildebrando de Araújo, na cidade de Ipiranga. Desencarnou em Curitiba, a 21/04/1990.
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